Paulo de Tarso Alvim Carneiro passou sua infância e adolescência em sua cidade natal, Ubá (MG), onde fez seus cursos primário e secundário no Colégio Brasileiro e no Ginásio Mineiro Raul Soares, respectivamente. Órfão de pai aos dois anos de idade, sua educação, assim como a de seus três irmãos maiores, ficou sob a responsabilidade de sua mãe, que para tanto exerceu por muitos anos a profissão de costureira. Em 1937, prestou vestibular para o curso de agronomia na Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais (ESAV), hoje Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo aprovado em 3º lugar entre 130 candidatos. Formado Engenheiro Agrônomo em dezembro de 1940, foi convidado para ser Professor Assistente de Botânica na ESAV onde, com o apoio de Octávio de Almeida Drumond, ministrou em 1943 o primeiro curso de Fisiologia Vegetal oferecido no Brasil para estudantes de Agronomia. Em 1945, por indicação da própria ESAV, foi agraciado com uma bolsa de estudos do "International Institute of Education" para fazer curso de pós-graduação na Universidade de Cornell (EUA), onde, em janeiro de 1948, obteve o título de PhD em Fisiologia Vegetal com tese sobre o tema "Studies on the mechanism of stomatal behavior". Ao retornar, iniciou pesquisas sobre fsiologia de plantas cultivadas e sobre a ecologia dos cerrados. Demonstrando a estreita correlação entre esse tipo de vegetação e as características químicas do solo, contribuiu para as técnicas de manejo do solo que permitiram a expansão da agricultura na região dos campos cerrados. Em 1949, por ocasião do 2º Congresso Sul-Americano de Botânica, em Tucumán, Argentina, coordenou o movimento que resultou na criação da Sociedade Botânica do Brasil, atualmente com mais de 2000 associados.
Seu pioneirismo no campo da Fisiologia Vegetal foi logo reconhecido, tendo resultado em convite formulado pelo Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas (IICA/OEA), o que o levou a trabalhar por 12 anos em diversos países da América Latina, principalmente na Costa Rica e no Peru. Entre 1951 e 1955, foi pesquisador e professor da Escola de Pós-Graduação do IICA em Turrialba, Costa Rica, onde realizou pesquisas sobre fisiologia da produção do cacaueiro e do cafeeiro e orientou cinco teses de mestrado. Suas pesquisas contribuíram significativamente para aumento da produtividade dos cafezais daquele país. Entre 1955 e 1962 atuou no IICA de Lima (Peru), onde colaborou com a Universidad Nacional Agrária "La Molina" no ensino de Fisiologia Vegetal e na implantação de sua escola de pós-graduação. Nesse período orientou cerca de trinta estudantes na redação de teses de graduação e/ou mestrado. Suas pesquisas com cultivos irrigados permitiram-lhe descobrir o fenômeno a que denominou "hidroperiodismo", relacionado com o mecanismo da floração do cafeeiro e de outras espécies tropicais, além de ter inventado o primeiro porômetro portátil para avaliar o grau de abertura dos estômatos em condições de campo, conhecido na literatura especializada como "Porômetro de Alvim".
Em 1963, colaborou com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) nos trabalhos de planejamento e implantação do Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC). Foi o principal dirigente técnico da CEPLAC durante 25 anos (1963 a 1988), período em que a produção brasileira de cacau registrou o maior aumento de sua história, passando de uma média anual de 130 mil t/ano em 1961-1965 para 380 mil t/ano em 1983-1988. Na Amazônia, a produção que era de 2 a 3 mil t/ano, elevou-se para 50 a 60 mil t/ano. Aposentado da CEPLAC em 1989, atualmente (1995) é Presidente da Fundação Pau-Brasil (ONG), dedicada a atividades conservacionistas e a estudos sobre agricultura sustentável em regiões tropicais úmidas. Como Professor Honorário da UFBA, orienta estudantes de mestrado nos laboratório de Fisiologia Vegetal do CEPEC. Publicou cerca de duas centenas de trabalhos técnico-científicos (em revistas, capítulos de livros, anais de conferências), cinco livros (como editor e co-autor), e pronunciou centenas de conferências em Congressos nacionais e internacionais.
OPINIÕES SOBRE ALVIM
«O Doutor Alvim é um homem de nossa época. Peparado na dura escola do rigor científico, jamais perdeu sua bonomia nem esse jeito de ser latino-americano que nos distingue de todos os outros povos, raças e culturas do nosso planeta.»
José Emílio Araújo -Diretor do Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas
«Na realidade, olhando para trás, com correta visão e sem paixão, é difícil se encontrar uma posição radical de Paulo Alvim.»
Frederico Afonso, Pesquisador (in memoriam)
«Ele me ajudou a desenvolver esse amor incondicional à natureza, a abraçar a minha profissão, a respeitar o próximo, a estar sempre atenta aos valores éticos das nossas atitudes, a importância de sempre manter a humildade, ao valor incomensurável da nossa família e a simplesmente amar a vida e viver, sempre viver.»
Fátima, Filha de Alvim, professora da UESC.
«Foi um grande estudante, prodigioso pelo caráter, pela inteligência, pela humildade, mas perfeito em sua personalidade e suas inacreditáveis qualidades afetivas.»
Victório Codo, Colega de curso primário
“Dr. Paulo Alvim foi, talvez, a personalidade da Pesquisa que exerceu maior influencia no extensionismo da Ceplac, desde sua criação em meados da década de 60. Sua figura portentosa era talhada para a liderança. Não havia nele nada de modesto, de pequeno, tudo era vasto, largo, dominador. Expressava com clareza seus pensamentos, com fluência, linguagem elegante, agudeza de raciocínio e serenidade ao analisar as mais diferentes questões na esfera técnico agronômica”.
Roberto Setúbal – Engenheiro Agronomo da Ceplac
“Paulo Alvim se destacou por não somente ter ditado as bases de como se produz cacau no Brasil, principalmente na Bahia, sua terra adotiva, mas também porque esses conhecimentos e práticas se estenderam por toda a América Latina, sendo utilizados ainda por países produtores de cacau da África e Ásia”.
Raul Valle – Pesquisador
“Dr. Alvim alem de excelente mestre, companheiro de trabalho e amigo representa um marco na comunidade científica em pesquisas de cacau. Fez parte de todas as conferências internacionais de pesquisa em cacau, sempre referenciado como excelente contribuidor para o progresso da ciência em cacau, principalmente nos estudos sobre a relação solo-água-planta. Sempre defendeu a ciência da cultura do cacau como se fosse um bem próprio. Considerando o que ele fez, numa época em que não se contava com os recursos tecnológicos de hoje, conseguiu não só desenvolver teorias, como até mesmo construir aparatos para estudos em fisiologia vegetal. È incontestavelmente um caráter raro de cientista”.
Regina Cele Machado - Pesquisadora
“Homem de espírito e de obras, o amigo certo, criador e realizador genial nos mais importantes e significativos momentos da lavoura cacaueira”.
José Haroldo Castro Vieira – (in memoriam)
“Como Mestre, Alvim pontilhou toda sua vida por agudo senso de responsabilidade seja como membro de uma família humilde, estudante, professor e verdadeiro pensador e homem de ação ao se constituir num dos principais responsáveis pela concepção, organização, instalação e funcionamento dos departamentos técnicos da CEPLAC, especialmente do Centro de Pesquisa do Cacau, considerado, aqui no Brasil e no exterior, como um dos mais bem concebidos centros de estudos agronômicos em regiões tropicais”.
Manfred Muller – Coordenador Científico da Ceplac